Expectativa x Realidade - os lugares por trás da foto perfeita do Instagram
Até que ponto vale enfrentar filas e pessoas mal educadas por uma foto?
Oi gente! Aqui é a Nanda!
Acabei de voltar de uma viagem MA-RA-VI-LHO-SA de quase 50 dias pelo Sudeste Asiático. Vivi dias incríveis na Indonésia, Vietnã e Tailândia.
OBS: na linha temporal do Instagram, ainda “estou” na Tailândia, mas saiba que já estou de volta no Brasil. kkkkkk
Dei o meu melhor durante a viagem, mas não consegui publicar em tempo real por conta do fuso horário e de toda a função que é parar para editar o conteúdo e postar…
Aliás, já trouxemos esse tema pra cá em uma de nossas últimas edições. Clica pra ler: Postar em tempo real vale a pena?
Nosso roteiro foi super intenso e com bastante produção de conteúdo (gravamos até para o nosso YouTube)! Só não posso dizer que foi fácil.

Se tem uma palavra que define o turismo na Ásia é: INTENSIDADE. Muita gente pra todo lado, pontos turísticos abarrotados de gente… e a partir disso, surgiu uma reflexão:
Até que ponto vale a pena se deslocar para outro país, enfrentar loooongas horas de voo, gastar tempo planejando - e pagando! - para estar em um ponto turístico famoso só porque viu AQUELA foto no Instagram?
Durante essa viagem estive em alguns lugares onde aquele meme da Expectativa x Realidade fez MUITO sentido. Visitei vários lugares considerados “instagramáveis" e isso me fez pensar sobre a forma como viajo e interajo com os destinos, e até mesmo sobre os caminhos que o turismo tomou com o advento das redes sociais.
Compartilho abaixo alguns dos principais choques de realidade que vivi durante essa viagem:
Um portal famoso de Bali - que não tem nada demais
Nosso roteiro por Bali incluía um pulo na região de Munduk. Fomos até lá para conhecer as famosas cachoeiras balinesas: a Sekumpul e a Fiji. E por que não dar um pulo no Handara Gate? Ele ficava no caminho e desviamos a rota para dar check numa das fotos mais icônicas de Bali.
Pelo nome você não deve saber de qual lugar eu estou falando, mas vendo essas fotos aqui embaixo, provavelmente vai resgatar na memória que já se deparou com elas algumas vezes nas redes sociais.
O lugar ficou famoso por causa do Instagram. Ao chegar lá, descobri que ele era apenas um portal - como MUITOS que tem Bali - que representa a entrada de um Golf Club.
Chegamos às 7h30 da manhã e já tinha um casal fazendo fotos com um fotógrafo profissional. Disputamos o local com carros e motos passando o tempo todo por ali, além de muuitos turistas em busca do clique perfeito.
Não tem nada ali, apenas uma boa oportunidade para um clique PAGO. R$ 30 por pessoa para tirar fotos. E se você quiser voar o drone é mais caro!
Acreditam que tem gente que vai até lá apenas para dar "check” em todos os lugares instagramáveis de Bali? Definitivamente não vale a pena o deslocamento, a não ser que você vá, de fato, conhecer a região de Munduk - que é linda!
Pessoas estão correndo risco de vida para ter a foto perfeita
Nusa Penida é uma ilha fica a 40 minutos de Bali. Passamos duas noites no local para conhecer suas paisagens, que são realmente de tirar o fôlego.
O turismo é intenso por lá, pois é possível fazer bate-volta saindo de Bali e muitas agências vendem esse pacote. Depois das 9h, qualquer ponto turístico da ilha fica lotado de gente.
Quem opta por hospedar-se na ilha, como foi nosso caso, tem que enfrentar estradinhas péssimas, cheias de curvas e buracos. E depois, seguir na luta em escadarias e filas sem fim. Ou seja, pensa em um perrengue pra chegar nos lugares turísticos!
O que me chamou a atenção foi a falta de estrutura e segurança do lugar para receber um número elevadíssimo de turistas todos os dias.
A Kelingking Beach, famosa por ter o formato de um Tiranossauro Rex, é um penhasco de 200m de altura com pouquíssima segurança. Inclusive li uma matéria falando que uma menina russa de 23 anos morreu caindo dali.
Pesquisei dicas no Google e li que era perigoso descer até a praia, porque é preciso passar por uma escadaria mal feita, com pedras soltas, escorregadia e, pra piorar… o mar é muito forte nessa praia, então mergulhar não é uma opção. Fiquei com isso na cabeça e já sabia que não iria descer.
Chegando lá, não tinha UMA placa avisando sobre o perigo do mar e vi muitas pessoas encarando a escadaria para dar um mergulho lá embaixo.
Aqui vai uma reflexão que surgiu a parte dessa situação toda: o trabalho de um influenciador pode - e deve - ir além de inspirar as pessoas com fotos perfeitas.
Devemos alertar também sobre o lado que ninguém mostra, falando dos cuidados a serem tomados quando você vai visitar lugares como essa praia.
Estátuas de Gili Meno - caos embaixo d'água
Outra parada imperdível na Indonésia são as Ilhas Gili, três ilhas pequenas localizadas a menos de 3h de Bali. Um dos passeios mais clássicos para fazer por lá, é um tour de barco que passa por vários pontos de mergulho, sendo um deles, nas estátuas subaquáticas.
Mar azul + visibilidade incrível + estátuas diferentonas + muitos peixes = o combo perfeito pra foto do Instagram, né?
Já imaginei que esse lugar estaria super cheio, porque é rota de todos os barcos que fazem turismo por lá, então combinamos com o nosso barco para sairmos cedo. Às 7h30 estávamos chegando no local. E adivinhem? Já estava lotado!
Ainda assim tentamos mergulhar para ver as estátuas e fiquei apavorada com a disputa embaixo d'água. Era braço e perna pra tudo que é lado, pessoas afundando ao mesmo tempo no meeeesmo lugar, pra tirar a tal foto.
Tentei uma vez e já desisti, porque a chance tomar um chute na cabeça era grande.
Me afastei e fiquei me perguntando o porquê de estar ali frustrada enquanto havia um mar imenso, cheio de corais, peixes e tartarugas pra explorar.
Até que ponto valeria a pena conseguir a "foto perfeita” ali? Tentamos uma foto ou outra, mas logo fomos embora.
Um fiasco de tour em Ha Noi, no Vietnã
Conhecer o Vietnã foi um misto de: “que lugar caótico, me tira daqui!” com “quanta coisa diferente, to amando!". Era assim que eu me sentia a todo tempo andando pelas ruas estreitas do Old Quarter em Ha Noi, a capital.
Amei o Vietnã, mas fiquei muito frustrada com um tour que fizemos para a região de Nihm Bihm. A proposta parecia ótima: vocês vão passear de bike pela cidadezinha, fazer um passeio em um barquinho de madeira e conhecer um templo que fica no alto de uma montanha.
Já imaginei toda a energia do lugar, que é liindo, cercado por muita natureza e cheio de história. Corta para: lugares lotadíssimos, muitos ônibus de turismo pra todo lado, pessoas mal educadas fazendo fila pra tirar foto, um verdadeiro perrengue. A ideia de curtir o lugar passou longe dessa vez.
Até postei um reels mostrando a realidade por trás da nossa tentativa de fazer um take de drone no templo no alto da montanha. Clica aqui pra ver!
Nesse caso, eu e Breno concluímos que erramos nas nossas escolhas. Não deveríamos ter feito um tour coletivo, mas sim um tour privativo. Dessa forma, a gente conseguiria fugir dos grupos, fazer os passeios no nosso tempo (ainda lembro da voz da nossa guia gritando com a gente porque tínhamos que cumprir horário e a gente sempre ficava pra trás).
Train Street: a ilusão da foto perfeita do Instagram
O Vietnã é cheio dos lugares instagramáveis! E eu, como uma blogueira nata (kkk) fiz minhas pesquisas dos lugares que gostaria de visitar.
Uma criadora de conteúdo que eu adoro, a Professional Traveler, tinha ido uns meses antes para Ha Noi e claro que eu salvei várias fotos e vídeos de inspiração. A primeira quebra de expectativa aconteceu quando fui visitar a famosa Train Street.
A foto de referência era essa: tomando um café tranquilamente em uma mesinha enquanto o trem passa bem perto! Uau!
Realidade: a rua estava tomada por pessoas, uma gritaria doida dos donos dos cafés pedindo pro pessoal sair do trilho do trem, sem mesinhas fofas e sem café, porque era muita gente pra pedir nas pequenas lojinhas. Se quiser rever como foi a nossa visita à Train Street, vai nos destaques do Instagram que tem um pouco do caos divertido kkk.
E depois dessas situações, e de tantas outras que não relatei aqui, fiquei refletindo muito sobre nosso estilo de viagem, os lugares que escolhemos para conhecer e a nossa produção de conteúdo como um todo. Aqui vão minhas conclusões:
Boa parte dos nossos desejos de viagem são alimentados pelo Instagram
Parece difícil assumir algo assim, mas é verdade. Eu consumo muito o Instagram, estou sempre conectada (muito mais do que gostaria) e sendo bombardeada com conteúdo de viagem o tempo todo - até porque esse é meu trabalho e o algoritmo é bem espertinho, né.
Então é óbvio que no meu subconsciente já tem uma lista pronta dos destinos que estão bombando, que tem praias lindas e que são super fotogênicos, só esperando uma boa oportunidade de aparecer na minha mente kkkk.
Não dá para deixar de visitar os pontos turísticos, mas dá para elaborar estratégias pra não passar perrengue
Não tem como ir ao Rio de Janeiro e não ver o Cristo Redentor ou o Pão de Açúcar. Também não tem como ir à Paris sem dar uma espiadinha na Torre Eiffel.
Cada destino tem seu lugar icônico e, em boa parte das vezes, esses lugares são realmente interessantes de visitar, por estarem atrelado à natureza, cultura ou história daquele destino.
Então minha dica para não cair em furadas é se programar bastante para visitá-los. Planeje-se para chegar bem cedo nesses lugares. Cedo mesmo, tipo 6h da manhã, antes da turistada acordar.
Outra dica é evitar os tours compartilhados. Tive essa péssima experiência em Nimh Bimh, e tenho certeza que se a gente tivesse ido em um tour privativo, teríamos conseguido fugir um pouco dos grupos enormes.
Slow travel: viajar com presença
O slow travel propõe uma reflexão em torno do ato de viajar, repensando muitas práticas do turismo. A ideia, basicamente, é esquecer o “ver o máximo possível” e pensar em “viver o máximo possível”.
Fiquei pensando em alguns momentos positivos e marcantes dessa viagem, e os primeiros que vieram na minha cabeça foram:
quando a pequena Lily, uma menininha de 8 anos, me perguntou se podia conversar comigo em inglês porque ela queria praticar para se tornar professora;
quando mergulhei em Komodo e estava sozinha, sem GoPro na mão (importante! hahha), observando os corais e olhei pro lado e me deparei com uma raia chita nadando do meu lado;
quando estava andando de moto na garupa do Breno pelas ruas de Ubud, sentindo o vento no rosto, observando cada detalhe das ruas;
quando sentamos em uma mesinha montada na areia para comer uma pizza deliciosa de frente pro mar em Gili Air e o céu estava super estrelado.
Esses momentos foram muito especiais e tem algo em comum: eu estava 100% presente, sem celular, sem internet, sem pensar em mil coisas… Apenas ali, vivendo e curtindo.
Com o nosso trabalho de produção de conteúdo fica difícil se desconectar totalmente, mas é importante ter dias mais tranquilos para que possamos de fato nos conectar com o destino, com os locais, com a energia. Não vale a pena viajar apenas para registrar tudo e ir atrás da foto perfeita do Instagram.
Quero ter cada vez mais isso em mente para poder tornar as minhas viagens cada vez mais interessantes e prazeirosas. ♡
E antes de me despedir, preciso falar sobre a minha fiel companheira nessa viagem pela Ásia. Escolhi o modelo Kanken Nº 2 Laptop 15 especialmente para essa viagem, porque ela tem um compartimento especial para o computador e alças mais confortáveis. Vivemos altas aventuras juntas, além de eu estar apaixonada pela cor!
Nossos seguidores - e leitores!! - tem desconto especial no site da Fjallraven, é só usar MALADEAVENTURAS no final da compra! Clique aqui para ver uma lista com os produtos que mais amamos!
Um beijo,
Nanda
#DicaDaGaia: leituras adicionais
Proibida a entrada de influenciadores: recentemente li essa publicação na página The Summer Hunter. De fato, tem locais que não precisam de mais publicidade, simplesmente porque não conseguem atender uma demanda elevada de consumidores. Por outro lado, o trabalho de influenciadores coloca no mapa locais incríveis que talvez você não tivesse conhecimento de outra forma. Qual é a sua opinião sobre isso? Vamos conversar nos comentários?
O Podcast Desenrola busca discutir assuntos que você nem sabia que tinham tanta importância na sua vida. E um dos temas recentes foi “O lado tóxico do Turismo", com participação do Ricardo Freire (autor do site Viaje na Viagem) e da Betina Neves (jornalista especializada em turismo). Eles inclusive citam a Ásia e trazem várias reflexões sobre turismo predatório, o acúmulo de lixo, o desrespeito com a fauna local e a descaracterização dos destinos. Vale a pena ouvir!
Pra te ajudar a planejar uma viagem incrível - e sem perrengue - pra Ásia:
> Viagem para o Vietnã: 18 coisas que você precisa saber antes de ir
> Onde ficar em Bali 2024: Ubud, Uluwatu, Canggu ou Seminyak?
> O que fazer em Bali: 32 passeios na ilha mais conhecida da Indonésia